Desde o dia 22 de Janeiro, o GEAC-RAC esteve acompanhando os debates promovidos durante as oficinas da Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS) – evento integrante do Fórum Social Temático 2012 – que reuniu lideranças de movimentos sociais e intelectuais de países da América do Sul e Caribe. Durante três dias, os Grupos de Trabalho da UPMS (dos quais os membros do GEAC-RAC participaram como observadores) debateram e construíram propostas a partir dos avanços e retrocessos identificados nas lutas políticas em torno à questões de gênero, raça, orientação sexual, território e autodeterminação, entre outros. Os relatos referentes às experiências militantes em cada contexto nacional permitiu traçar um quadro em que se interseccionavam as lutas dos grupos, em um primeiro momento discriminados por área de atuação. Uma sistematização final dessas proposições deve ser realizada no dia 24, em um encontro geral que discutirá também os próximos passos da UPMS.

A idéia de uma Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS) surgiu no âmbito do Fórum Social Mundial (FSM) com o reconhecimento de dificuldades de “tradução” entre as diferentes concepções que traziam os movimentos sociais e da necessidade de conhecimento recíproco entre tais organizações. Seu objetivo, segundo Boaventura de Sousa Santos, um dos idealizadores, é proporcionar a auto-educação dos ativistas e dirigentes dos movimentos sociais, cientistas sociais, investigadores e artistas empenhados na transformação social progressista.

A iniciativa de promover e valorizar a enorme diversidade de conhecimentos produzidos pelos movimentos sociais e organizações no interior da globalização contra-hegemônica foi impulsionada pela constatação de que existe uma constelação de práticas e saberes que são suprimidos, marginalizados e permanentemente deslegitimados pelo conhecimento científico estabelecido e pelos discursos hegemônicos (que pautam também a ação do Estado). Ao constatar-se esta lógica monocultural de validação do conhecimento, que exclui a experiência social e cognitiva destes grupos, estabelece-se um novo marco para o diálogo com os centros acadêmicos. Os métodos formais de processamento do conhecimento científico ocidental são vistos, então, como uma forma particular de epistemologia que detêm o poder para definir como particulares, situados, locais e contextuais todos os conhecimentos que com ela rivalizam. A emergência da UPMS denota um esforço para proliferar saberes que, de outra forma, não têm espaço nem status de conhecimento validado nos centros estabelecidos de produção de conhecimento científico.

O que se pretende é a criação um novo tipo de relação entre o conhecimento científico e outras formas de conhecimento, dando possibilidade à geração de uma ecologia de saberes, em contraposição à monocultura do conhecimento científico e dos discursos hegemônicos. A proposta da UPMS está sendo realizada por meio de oficinas de tradução intercultural dos quais participam intelectuais, grupos e movimentos sociais de países da América Latina e onde se visa promover um saber partilhado, construído a partir de diferentes experiências de enfrentamento social (lutas anti-racistas, anti-machistas, por território, por afirmação cultural, etc) e de distintas realidades nacionais.
*Imagens tomadas na Oficina da Universidade Popular dos Movimentos Sociais, realizada no dia 22 de janeiro de 2012 na cidade de Canoas, RS. Fórum Social Temático.
Vídeo onde Boaventura de Sousa Santos fala sobre as origens e perspectivas da Universidade Popular dos Movimentos Sociais:
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