As oficinas virtuais do GEAC são um experimento de escrita e publicação baseado em compromissos coletivos que deseja contribuir para o questionamento prático das agendas de pesquisa e dos regimes de visibilidade acadêmica atualmente vigentes. No primeiro semestre de 2016 sugerimos um amplo exercício de reflexão sobre “a possibilidade de construção do enunciado antropológico crítico”.
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Como surge a proposta das oficinas?
Inicialmente organizado por estudantes do mestrado em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, faz cinco anos que o GEAC vem desenvolvendo uma série de debates e intervenções dentro e fora das instituições acadêmicas. Na época de sua formação, o GEAC matinha reuniões presenciais para discutir suas pautas temáticas e organizar intervenções concretas. Tal dinâmica permitiu, entre outras coisas, o lançamento do fanzine A Tinta Critica e a organização de algumas atividades ampliadas de discussão, como o evento “Ensaios e críticas antropológicas do neoliberalismo. Perspectivas no sistema mundo”.
Hoje, o GEAC se propõe a revisar sua trajetória e elaborar novas sínteses que deem continuidade aos debates anteriormente desenvolvidos em outro patamar qualitativo. Para colocar em prática esta tarefa, organizaremos oficinas virtuais na qual desenvolveremos discussões que culminariam na elaboração de intervenções escritas. As intervenções serão publicadas na forma de dossiês no blog do Grupo.
A proposta do Grupo de Estudos em Antropologia Crítica é organizar duas oficinas anuais com duração de dois meses, divididas em sessões quinzenais. Nestas sessões serão abordados textos pertinentes ao tema da cada oficina. No final dos trabalhos espera-se que os participantes elaborem um texto individual e contribuam na escrita de um texto coletivo, que servira de editorial ao dossiê. Uma vez publicado no blog, o dossiê receberá ampla difusão em redes que incluem e transcendem o espaço universitário.
O escopo desta inciativa é politico-acadêmico, uma vez que consideramos que as formas e as “politicas eleitorais” de publicação nas ciências sociais latino-americanas continuam alimentando regimes produtivistas e silenciadores que tendem a suprimir formas outras de produção do conhecimento. Acreditamos, portanto, que uma modalidade de escrita e publicação embasada em amplos engajamentos coletivos poderia contribuir ao questionamento prático das agendas de pesquisa e dos regimes de visibilidade vigentes, colocando também em xeque os esquemas de validação propostos a partir de certas publicações institucionalizadas no establishment.Além disso, esperamos trazer novas discussões e perspectivas e fazê-las circular num espaço ampliado de expressão e discussão.
Neste primeiro semestre de 2016, convidamos a todxs xs interessadxs a participarem de nossa primeira oficina, intitulada: A possibilidade de construção do enunciado antropológico crítico.
No segundo semestre deste ano, com data de início ainda por ser definida, realizaremos a segunda oficina, intitulada Marxismos com antropologias.
Para saber como se inscrever na oficina e conhecer sua metodologia de trabalho, acompanhe as informações abaixo.
Oficina primeiro semestre 2016 :
A possibilidade de construção do enunciado antropológico crítico
Forma de trabalho
As oficinas virtuais funcionarão por meio da plataforma de Google Docs e consistirão, basicamente, num documento compartilhado por todos os participantes aberto à intervenção permanente. Para participar, x interessadx deve enviar uma mensagem com nome e e-mail ao endereço eletrônico do GEAC: antropologiacritica@gmail.com.
Uma vez adicionado à plataforma Google Docs por algum dos membros do GEAC, o participante terá acesso a um documento subdividido em várias sessões de discussão organizadas em ordem cronológica. O participante poderá intervir nas discussões de cada sessão escolhendo uma cor que identifique sua participação e colocando seu nome entre parênteses sempre que escrever algo. As intervenções não precisam ser lineares nem formalizadas, podem responder a qualquer inquietação ou estarem endereçadas a alguma pessoa em particular ou a um grupo de questões.
A dinâmica da oficina consiste em sessões temáticas com duração de 15 dias cada uma. Cada sessão possui uma ou mais pessoas responsáveis que, no prazo dos 5 primeiros dias da quinzena, desenvolverá as questões que considere pertinentes e procurará fomentar o debate. Nos dez dias seguintes, todos os participantes, incluído o responsável pela sessão, poderão desdobrar as questões propostas de acordo com a disponibilidade de cada um. As intervenções podem ser feitas em múltiplas ocasiões por uma mesma pessoa no prazo dos dez dias de duração de cada sessão. Passados quinze dias, a sessão será dada por fechada. Ao longo da oficina, quem quiser publicar pequenas resenhas dos textos discutidos, terá o espaço do blog à sua disposição para fazê-lo.
Uma vez finalizadas as quatro sessões que compõem a oficina, abre-se espaço para que os participantes contem, em aproximadamente três linhas, sobre o que pretendem escrever para o dossiê. Depois, em um prazo máximo de 20 dias, os trabalhos serão apresentados para publicação no blog do GEAC. Os textos não devem exceder cinco páginas (Times tamanho 12) e as formas de citação são livres (incluindo links que levem às publicações originais). Para garantir certa qualidade no debate, é preciso ter participado de pelo menos metade das sessões para poder publicar no dossiê. No entanto, recomendamos participação integral e engajamento fluido na oficina.
Fundamentação da proposta
Nesta primeira oficina sugerimos retomar a tarefa de revisar programas reflexivos críticos originados em práticas antropológicas diversas. Queremos estabelecer cruzamentos e diálogos entre as trajetórias e singularidades daqueles que integrarão a oficina, a própria trajetória do GEAC e as propostas de alguns autores que têm se preocupado por criar condições, conceitos e coordenadas para a configuração de um espaço crítico de enunciação – seja na antropologia enquanto instituição/conhecimento especializado, seja na realidade política que perpassa outros espaços sociais. Buscamos, portanto, explorar a criação e a reatualização de certos enunciados críticos que nos permitam apontar para novos horizontes pragmáticos e investigativos. Para alcançar este objetivo, é preciso olhar com atenção para certas propostas que pretendem validar ou invalidar as apostas críticas nos atuais debates teórico-políticos e metodológicos. Para levar adiante este debate propomos quatro eixos temáticos:
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- Retrospectiva do debate sobre antropologia crítica a partir do GEAC: neste ponto gostaríamos de resgatar algumas das intervenções publicadas tanto na Tinta Critica como no próprio blog do grupo.
- Vanguardas, modas e perspectivas anti e pós críticas: neste eixo queremos explorar argumentos recentes que têm sido produzidos no âmbito da teoria social crítica. Também buscaremos coordenadas para criticar tais argumentos.
- Perspectivas críticas possíveis a partir da antropologia: pretendemos, neste item, explorar alguns enunciados críticos recentes desenvolvidos, especialmente, na América do Sul. A ideia é avaliar criticamente suas possibilidades de apropriação e sua pertinência no cotexto das lutas atuais.
- Às Armas: neste tópico abordaremos um conjunto de textos que podem ser relevantes para a reflexão sobre as possibilidades atuais de construção do enunciado crítico a partir das práticas de pesquisa social. Os textos escolhidos provêm de diferentes espaços de produção intelectual e intervenção política, alguns deles situados fora das instituições acadêmicas convencionais. A partir da leitura destes materiais, os participantes são convidados a desdobrar suas próprias reflexões sobre as condições de possibilidade da formulação crítica tendo em vista os conceitos e temáticas originados de sua própria atuação enquanto pesquisadores.
Cronograma
– Inscrições e consultas: 08/04/2016 até 23/04/2016
– Data de inicio: 25/04/2106
– 1ª sessão: 25/04/2016 a 09/05/2016
– 2ª sessão: 10/05/2016 a 25/05/2016
– 3ª sessão: 26/05/2016 a 02/06/2016
– 4ª sessão: 03/06/2016 a 17/06/2016
– Envio de descrição breve do conteúdo de intervenção individual para o dossiê: 07/07/2016
PROGRAMA DE LEITURAS
Sessão 1: Restropectiva do debate sobre antropologia critica no GEAC
Textos base:
- A Tinta Crítica número 0;
- A Tinta Crítica número 1;
- A Tinta Crítica número 2;
- A Tinta Crítica número 3;
- Cosas que se dicen al margen: “‘Adieu’ a la antropología” (intervenção de Tomás Guzmán no blog do GEAC);
- Quando acordamos “a” Antropologia ainda estava ali: intervenção num debate sobre dissidência (resposta à intervenção de Tomás, também publicada no blog do GEAC).
Sessão 2: vanguardas, modas e perspetivas teóricas anti/pos/criticas.
Textos base:
- Saberes situados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. (Donna Haraway)
- O que é o iconoclash? Ou, há um mundo além das guerras de imagem? (Bruno Latour)
- Critical political ecology and the seductions of posthumanism (Fayaz Chagani)
Textos complementares:
- Manifesto ciborgue: Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. (Donna Haraway)
- O discreto charme de Bruno Latour ou a crítica da “anti-crítica” (Benjamin Noys)
- Uma interpelação feminista indígena à “Virada Ontológica”: “ontologia” é só outro nome para colonialismo (Zoe Todd)
Sessão 3: Perspetivas criticas possíveis a partir das antropologias:
Textos base:
- La política de la ontología: posiciones antropológicas (Martin Holbraad, Morten Axel Pedersen y Eduardo Viveiros de Castro)
- Desde abajo, por la izquierda y con la Tierra (Arturo Escobar)
- Introducción: colonialidad del poder y antropología por demanda (Rita Segato. Introdução do livro La crítica de la colonialidad en ocho ensayos, disponível aqui)
- Sufrimientos, Teodiceas, Prácticas disciplinares y apropiaciones (Veena Das. Começa na página 437 do livro Sujetos del dolor Agentes de Dignidad)
Material complementar:
- “La antropología siempre es militante” (áudios de uma conferência de Rita Segato)
- Viveiros, Indisciplina-te! (Alex Moraes e Juliana Mesomo)
- Abordagem crítica do perspectivismo viveiriano, fala de Tânia Stolze Lima (no vídeo, a partir do minuto 37:30)
Sessão 4: Às armas! Coordenadas práticas para tencionar hierarquias institucionais e construir o enunciado crítico.
Textos base:
- A copesquisa militante no autonomismo operaísta. (Bruno Cava)
- Romper o monopólio do conhecimento. Situação atual e perspectivas da Pesquisa-Ação Participativa no mundo. (Texto de Orlando Fals Borda traduzido para o número 44 da revista Cadernos do IHU, disponível aqui. O texto começa na página 32.)
- ¿Romanticismo? (Colectivo Situaciones)
- (Colectivo Situaciones)
- Vídeo Rita Segato “Brasil: colonialidad, élites y universidad”
Materiais complementares:
- Una metafísica crítica podría nacer como ciencia de los dispositivos. (Tiqqun)
- Desdisciplinar a Antropologia (diálogo com Eduardo Restrepo)
- Brinde por uma antropologia delirante (Alex Moraes e Tomás Guzmán)
- Vídeo da entrevista do GEAC a Boaventura de Sousa Santos.
- Vídeo Silvia Rivera Cusicanqui: “Historia oral, investigación-acción y sociología de la imagen”
Gostaria de participar desta oficina.
Cara Maristela, para participar basta enviar um e-mail comunicando teu interesse para o seguinte endereço de correio eletrônico: antropologiacritica@gmail.com