No decorrer deste diálogo, publicado recentemente pela Revista Epistemologias do Sul, a socióloga Adelia Miglievich-Ribeiro e os integrantes do GEAC colocam em movimento seus respectivos instrumentais teóricos de modo a engendrar um espaço comum de pensamento. Desse espaço emergem intuições e conceitos potencialmente relevantes para imaginar articulações possíveis entre prática intelectual, pesquisa social e política emancipatória.
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Introdução ao diálogo
Adelia Miglievich-Ribeiro é socióloga e dá aulas na Universidade Federal do Espírito Santo. Há vários anos ela vem promovendo ressonâncias entre o pensamento crítico brasileiro e outras razões emancipatórias cultivadas nos mais diversos pontos do mundo, especialmente em países do continente latino-americano. Os textos de Adelia desafiam as limitações do espaço e do tempo e transgridem as barreiras disciplinares para promover diálogos criadores entre sujeitos que, mesmo sem se conhecerem, certamente têm muito a dizer uns aos outros. Assim, Walter Mignolo reúne-se com Darcy Ribeiro, enriquecendo os horizontes do pensamento pós-colonial em terras de Abya Yala; Raymond Williams é convocado a oferecer categorias de análise estratégicas para as lutas populares no sul do mundo; o coletivo de argumentação modernidade/colonialidade se entrelaça com projetos anteriores de emancipação do pensamento para dar origem a um discurso potente sobre a descolonização da universidade em terra brasilis. Ao produzir este tipo de encontro, Adelia nos coloca em contato com as enormes potencialidades de um pensamento social brasileiro que tomou para si a tarefa de atualizar intuições teóricas de outrora comunicando-as com os debates latino-americanos do presente em busca de novos horizontes de imaginação política.
A reabertura dos grandes debates latino-americanos foi, sem dúvidas, potencializada pela nítida sensação de estarmos habitando um espaço político compartilhado, pelo menos desde o início dos anos 2000. Neste espaço político comum, marcado pela ascensão dos chamados governos progressistas sul-americanos, confluíram, dialogaram e entraram em tensão diversas vozes interessadas em compartilhar um relato abrangente e politicamente estratégico sobre a nova conjuntura. Já no plano institucional, países mais prósperos, como Brasil e Argentina, investiram pesado em políticas educativas que garantiram a afluência, em seus respectivos sistemas de ensino superior, de estudantes de graduação e pós-graduação das mais diversas nacionalidades. O Grupo de Estudos em Antropologia Crítica (GEAC) foi resultado dos novos encontros proporcionados pela implementação de políticas acadêmicas orientadas à integração regional. Em 2011, estudantes brasileiros, argentinos, colombianos e uruguaios organizaram o GEAC, na cidade de Porto Alegre, para explorar juntos algumas agendas intelectuais que os currículos universitários convencionais só conseguiam assimilar timidamente. Seu objetivo político era concreto e ambicioso: descolonizar o saber e o poder, ou seja, criticar as estruturas vigentes de produção do conhecimento e nelas intervir radicalmente tendo em vista a necessidade de compatibilizá-las com os rompantes democráticos insuflados por uma conjuntura continental que soava promissora. Desde então, o GEAC vem desenvolvendo uma apropriação singular do pensamento decolonial que, sem declinar do programa teórico inaugurado por Marx, assimila influências pós-estruturalistas e flerta, vez que outra, com Deleuze e Guattari.
O presente diálogo, desenvolvido por e-mail entre os meses de abril e maio de 2017, poderia ser pensado como o encontro entre duas trajetórias intelectuais que reverberam, cada uma a seu modo, certas apostas teórico-políticas cultivadas na última década. A conjuntura mudou dramaticamente de uns anos para cá e são momentos de troca de ideias como este que nos permitem avaliar onde estamos posicionados e o que podemos esperar do futuro se não estivermos dispostos a adotar a resignação como estilo de vida. Ao longo das próximas páginas, Adelia Miglievich-Ribeiro conversa com três integrantes do GEAC: Juliana Mesomo, Alex Moraes e Tomás Guzmán. No decorrer do bate-papo, os quatro interlocutores colocam em movimento seus respectivos instrumentais teóricos engendrando um espaço comum de pensamento do qual emergem intuições e conceitos potencialmente relevantes para imaginar articulações entre prática intelectual, pesquisa social e política emancipatória. O extenso diálogo inclui análises sobre as dinâmicas que regem a produção do conhecimento nas “antropologias institucionais disciplinares” e incursiona pelos Estudos Culturais em busca de conceitos para pensar e enunciar “fissuras” nos regimes hegemônicos de poder e representação. Por último, mas não menos importante, Adelia e o GEAC abordam as potencialidades e limites dos enfoques decoloniais e recuperam a Teoria Marxista da Dependência em meio a uma reflexão sobre as condições políticas de possibilidade do pensamento crítico nos dias de hoje.
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