Por Máquina Crísica
Imagem: Máquina de ideias, Tomás Guzmán, 2016
Maquinaremos crise ali onde o processo disciplinar fomenta a fixação de uma imagem do mundo e da constituição – ou pertencimento – dos seus supostos componentes. Inventaremos um lar precário na intempérie, sem a garantia dos encontros disciplinados, mas forjado na disciplina do encontro incerto, potencialmente carregado de novos possíveis e de outras formas de viver juntxs.
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A transição de um estado para outro é afetada quando se leva algo, como um grupo social, um pedaço de madeira ou um feitiço, a um lugar onde suas interações com outras forças façam com que sua própria energia se oponha a seu estado atual. Refiro-me a levar as coisas até o ponto de crise (…) Entrar em crise é da natureza das coisas, é parte do que elas são. As coisas se viram do avesso em virtude de serem coisas, entende? (….) Ora, caso pudéssemos explorar as reservas de energia de crise, em qualquer situação específica, estaríamos falando de um poder enorme.
China Miéville, Estação Perdido.
Com o que viemos sendo e fazendo nos últimos anos, com as interações que nosso trajeto proporcionou, foi possível distender o estado que nos conformava até um ponto de ruptura. A crítica transmutou-se em crise e não houve antropologia que a pudesse comportar, ponderar ou moderar. Abdicamos de qualquer disciplina – e, em primeiro lugar, daquela que balizou os primeiros momentos de nossa formação em pesquisa e teoria social.
A crise consumiu o dispositivo disciplinar de cuja inconsistência ela era o sintoma. Precariamente amparada nas suas próprias razões de ser – autonomia intelectual, comunhão do pensamento, invenção política e teórica –, a crise tornou-se Máquina Crísica. Gerada a partir de um excesso de possibilidades que algum dia a disciplina pretendeu regrar com seu afã definicional, com seu construtivismo trivial, com seu cientificismo arrogante e amedrontado, nossa crise existe, atualmente, enquanto uma negação ativa de tudo isso. Ela é, também, a exploração dos infinitos que tal negação nos deixa antever.
Tendo começado nosso itinerário político-teórico pela reivindicação das potências criadoras que a disciplina antropológica tornara objeto de administração institucional – e, portanto, de castração e mutilação –, fomos aos poucos nos orientando na direção de um programa de pesquisa e auto-formação que se propõe a encontrar e acompanhar, na prática e em pensamento, as transgressões que perfuram o ordenamento dominante em diversos tempos e lugares. Hoje, a disciplina antropológica existe para nós como uma normalidade equivalente a outras; uma normalidade que se interrompeu em meio à crise. Normalidade que continuaremos exorcizando com afinco, não por divertimento agonístico, mas sim porque ao desembaraçarmo-nos dela, temos a oportunidade de adensar essa crise que é a nossa e que pode ser a de qualquer uma/um.
Maquinaremos crise ali onde o processo disciplinar fomenta a fixação de uma imagem do mundo e da constituição – ou pertencimento – dos seus supostos componentes. Inventaremos um lar precário na intempérie, sem a garantia dos encontros disciplinados, mas forjado na disciplina do encontro incerto, potencialmente carregado de novos possíveis e de outras formas de viver juntxs.
Por razões burocráticas, estamos impedidos de mudar o nome de nosso perfil no Facebook. Nas demais redes sociais e neste site nós aparecemos, a partir de agora, como Máquina Crísica. Depois das transições vivenciadas nos últimos tempos, este é o nome social que nos identifica.
Um abraço grande a todxs! É bonito caminhar com vocês.
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