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Marxismos com antropologias. 2ª oficina virtual do GEAC.

Articulada com o marxismo, a vocação antropológica se converte em prática de análise e acompanhamento político sistemático das alteridades rebeldes — das invariantes comunistas? — que transbordam e transgridem a pretensão totalitária da produção capitalista e da sua parafernália político-institucional. Falar de marxismos com antropologias é, portanto, re-inscrever a análise crítica e situada da vida coletiva no horizonte da política radical e transformadora.

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HAZ CLIC AQUÍ para leer la propuesta del taller en castellano.

Proposta da oficina

Para nós o comunismo não é um estado que deve ser implantado, um ideal ao qual devamos ajustar a realidade. Nós chamamos de comunismo o movimento real que anula e supera o estado de coisas atual.

Karl Marx e Friedrich Engels. A Ideologia Alemã.

Com o intuito de dar continuidade aos espaços de autoformação promovidos pelo Grupo de Estudos em Antropologia Crítica-GEAC, convidamos todxs os interessadxs para participar de nossa segunda oficina virtual, intitulada “Marxismos com antropologias”. A oficina ocorrerá entre os dias 1° de março e 1° de maio de 2017 através da plataforma We.riseup. Neste espaço de autoformação abordaremos discussões que, no âmbito da antropologia mainstream, têm sido obliteradas sistematicamente, não obstante sua relevância para o campo do político e para as lutas sociais do presente. Trata-se de debates imprescindíveis para a atuação reflexiva nas conjunturas atuais e para a construção de devires comunistas na ação e no pensamento.

Na presente oficina nossa intenção é acessar leituras da obra marxiana e do marxismo clássico que nos permitam avaliá-los enquanto expressão teórico-política da intenção comunista. Prestar atenção às políticas da teoria que constituem e informam a máquina conceitual marxista significa, portanto, retornar àquela palavra corrompida, incômoda e impertinente: comunismo.

Depois da queda do muro de Berlim, como sintoma de um mundo direitizado e desiludido, marxismo e comunismo atravessaram épocas de desprestígio. Todas as radicalidades que questionaram o ordenamento social baseado na propriedade privada e não aderiram ao aparelho estatal e ao sistema de partidos que o integra foram expostas à cínica chantagem do Gulag e convidadas a aderir às “evidências” do novo período histórico. Neste contexto, os que ainda ousavam se dizer marxistas descartaram a ideia de comunismo classificando-o como excesso rebelde e irracional que assombrava o marxismo e a obra dos seus precursores. Salvar este excesso do monte de entulhos produzido pela teleologia liberal implica dar um novo começo à ele; implica um esforço por viabilizar a ideia de que é necessário superar a produção social organizada pela lógica do capital e suas formas de desigualdade e horror. Só poderemos superar o marxismo como filosofia quando esta tarefa tenha sido cumprida. Enquanto isso, é necessário retomá-lo, ou melhor, retomar sua vocação básica que, a propósito, nunca foi a de ser um mero programa científico, mas sim, como argumentou Sylvain Lazarus, ser a política do comunismo. Uma política da teoria que consiste em evidenciar e enunciar as condições concretas de impossibilidade da ordem atual para fortalecer, ética e estrategicamente, a criação de novos possíveis.

Atuar o marxismo enquanto política do comunismo implica desenvolver meios para refletir de maneira situada sobre os devires radicais da conflitividade social contemporânea; devires que colocam em questão os a priori da ordem existente e engendram uma razão própria que, no entanto, precisa ser especificada no tocante ao seu conteúdo e ao seu objeto. Neste ponto, começa a fazer sentido falar de “antropologias com marxismos”. A antropologia é pensada, aqui, da mesma forma que o marxismo, a partir de sua vocação mais básica. Uma vocação que consiste em produzir perguntas, respostas e sentidos em meio ao encontro com os demais. Articulada com o marxismo, a vocação antropológica se converte em prática de análise e acompanhamento político sistemático das alteridades rebeldes — das invariantes comunistas? — que transbordam e transgridem a pretensão totalitária da produção capitalista e da sua parafernália político-institucional. Falar de marxismos com antropologias é, portanto, re-inscrever a análise crítica e situada da vida coletiva no horizonte da política radical e transformadora.

Convidamos todxs vocês a confluírem num espaço comum de pensamento e composição política para ponderar juntxs sobre a necessidade e as consequências de praticar marxismos com antropologias. Sabemos que nos espaços acadêmicos onde habitam as antropologias institucionais disciplinares ainda existem muitos espantalhos que as vozes autorizadas insistem em denominar marxismo e comunismo. A bibliografia proposta para esta oficina virtual confronta esses espantalhos com a vivacidade de um pensamento ativo e em luta.

Inscrições e estrutura da oficina

A segunda oficina virtual do GEAC se desenvolverá na plataforma We.riseup.net, que nos oferece ótimos recursos para organizar as discussões propostas de uma forma bastante acessível. Para participar da oficina, xs interessadxs devem enviar um e-mail notificando sua intenção para o endereço eletrônico antropologiacritica@gmail.com. Entraremos em contato o antes possível para confirmar a inscrição e enviar um convite para a página da oficina no We.riseup. Quem não possui cadastro na plataforma We.riseup poderá fazê-lo no momento de receber o convite ou agora mesmo, clicando aqui.

Período de inscrição: 7 de dezembro de 2016 a 28 de fevereiro de 2017.

A oficina começará no dia primeiro de março e finalizará no dia primeiro de maio de 2017. Serão quatro sessões com sua respectiva bibliografia. Cada sessão dura 15 dias e possui um/uma encarregadx que utilizará os primeiros 5 dias para compartilhar seus comentários sobre as leituras sugeridas e dar início à discussão. Os 10 dias restantes estarão destinados a  participação de todxs xs integrantes da oficina (incluindo x encarregadx da sessão). Cada participante pode intervir no debate quantas vezes julgar necessário. Concluídos os 15 dias de duração de uma sessão, passaremos à seguinte de acordo com a mesma metodologia até concluir o programa de leituras proposto.

No transcorrer da oficina xs participantes também estão convidados a enviar textos de até 8 páginas (fonte Times, tamanho 12, espaço simples) que expressem sua apropriação pessoal da discussão geral. Os textos enviados serão publicados no site do GEAC. Uma vez concluída a oficina, abriremos um período de 10 dias para o envio de intervenções curtas (uma página e meia, fonte Times, tamanho 12, espaço simples) que serão publicadas numa edição especial impressa do zine A Tinta Crítica a ser lançada no V Congresso da Asociación Latinamericana de Antropología, Bogotá, 6 a 9 de junho de 2017. A redação e envio destes textos não é obrigatória e não condiciona a participação na oficina.

Bibliografia:

Sessão 1: Posicionar-se diante da política marxista e da hipótese comunista. (período: 1 a 15 de março)

La ontología marxista de 1844 y la cuestión del “corte”. Gerard Granel.

La Comuna, el Estado, la Revolución. Daniel Bensaïd

El comunismo invariante o la acumulación de la crítica.  Bruno Bosteels.

La idea de Comunismo (artigo). Alain Badiou.

El comunismo es la crítica radical de todo lo que existe. Entrevista com Michael Hardt

Sessão 2: Outros clássicos (período: 16 a 30 de março)

O capitalismo como Religião. Walter Benjamin

Sobre a ideia de emergência em Lukács e Bhaskar: para uma defesa da historicidade das estruturas sociais. Rodrigo Monfardini

–  El principio esperanza. Prólogo. Ernst Bloch.

Lucien Goldmann ou a aposta comunitária. Michel Löwy.

Sessão 3: Marxismo como herança e promessa em diversas frentes de ação e pensamento (período: 31 de março a 14 de abril)

“Conjurar — o marxismo”, capítulo 2 de Espectros de Marx. Jacques Derrida.

“Marx, Guattari e Deleuze”, entrevista com Isabelle Garo e Anne Sauvagnargues .

Una unión queer entre marxismo y feminismo?, capítulo IV do livro Las Sin Parte, matrimonios y divorcios entre marxismo y feminismo

Repensando a Marx en un mundo post marxista. Moishe Postone

El programa científico de investigación de Carlos Marx (Ciencia social funcional y crítica). Enrique Dussel

Sessão 4: Marxismos com antropologias e ciências sociais (período: 15 de abril a 1 de maio)

Capítulo I (Ideologia) e IV (Marxismo) do livro Ideologias e Ciência Social. Michel Löwy.

Teoria social crítica e tendências de desenvolvimento, emancipação e comunismo tardio.  José Maurício Domingues

Argumento e Capítulo I de Antropología del Nombre. Sylvain Lazarus

Rumo a uma antropologia marxiana? (a versão original em inglês pode ser baixada através deste link). Nicholas De Genova.

Posfácio à edição estadunidense de “A origem da família, do Estado e da propriedade privada”. Eleanor Burke Leacock.

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